Muitos alunos me escrevem pedindo dicas de como diminuir seus erros quando estudam comportamento animal (etologia) para aumentar a confiabilidade de seus dados. Um fator importante na qualificação do estudo e possibilidade de publicação futura.
Dou aqui algumas dicas básicas que podem ajudar.
Dicas para minimizar problemas e aumentar suas chances de sucesso:
1) Procure se familiarizar ao máximo com seu objeto de estudo, leia sobre ele, a fim de aprender sobre sua anatomia, capacidades perceptivas, forma de vida, alimentação, reprodução, se é territorial etc. Enfim, aprenda tudo que for possível.
2) Antes de iniciar o estudo, faça observações preliminares. Anote tudo que vir o animal fazendo, anote livremente, sem preocupações.
3) Sabendo do horário de atividade do animal, chegue antes ao local de trabalho e prepare-se para já estar com tudo pronto quando ele entrar em atividade.
4) Use roupas discretas, de cores camufladas, pois cores chamativas podem inibir ou afugentar o animal.
5) O cheiro do pesquisador pode elicitar ou inibir comportamentos, portanto evite desodorantes perfumados. É melhor usar antitranspirante inodoro. O mesmo é válido para protetor solar e repelente de insetos.
6) Não faça barulhos, caminhe com suavidade, evite conversas e equipamentos que produzem ruídos, músicas e sons (principalmente os agudos).
7) Se conhecer alguém que já trabalhou com o “seu” animal, ou algum parecido, converse bastante, peça dicas e opiniões, faça isso sem receio de parecer idiota. No começo, todo mundo faz perguntas idiotas. Pior é quem pensa que já nasceu sabendo!
8) Escolha um animal que esteja dentro de suas capacidades físicas para acompanhá-lo no campo. Por exemplo, se você não sabe nadar, como vai mergulhar para ver peixes em corredeiras? Se você está completamente sem preparo físico, como vai seguir muriquis (Brachyteles arachnoides, macacos também conhecidos como monos-carvoeiros), por quinze horas seguidas, na mata fechada? Ou estudar os carneiros das montanhas? Tenha bom senso e humildade nessa escolha.
9) O seu primeiro animal deve ser abundante, atrevido (não se inibe com humanos), conspícuo (vistoso e não se incomoda com isso), diurno, de anatomia bem conhecida e descrita, já ter uma boa bagagem de conhecimento existente sobre ele ou sobre algum parente próximo.
Bom, pela dica número 9, você pode estar pensando agora: “Poxa, esse cara quer que eu trabalhe com gato, galinha, cachorro!”. Não é má ideia para treinar, antes de escolher um animal silvestre. Mas acredite em mim, há muitos animais silvestres, especialmente nos trópicos, que vivem dentro dos ambientes das cidades, que atendem a todos os pré-requisitos do item 9 e são praticamente desconhecidos da ciência, no que diz respeito a ecologia e comportamento. Aqui no Brasil, há desde sapos, até serpentes, lagartos, aves e mesmo alguns macacos que se encaixam nestas exigências.
Veja mais em:
DEL-CLARO, Kleber. Introdução à Ecologia Comportamental: um manual para o estudo do comportamento animal. Technical Books, 2010.