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Foto do escritorKleber Del Claro

O que faz uma Vida ser Boa? Lições do maior estudo científico já feito sobre a Felicidade.


O que nos mantém saudáveis e felizes ao longo da vida?


Se você fosse investir agora em seu melhor “eu” futuro, onde alocaria seu tempo e sua energia? Acredite, a ciência busca respostas empíricas para essas questões e aqui mostraremos algumas delas, a partir de um estudo feito ao longo de sete décadas, sobre as razões da longevidade, saúde e felicidade humanas.


Houve uma pesquisa recente com a geração dos millenials (pessoas nascidas entre 1980 e 1994), perguntando a eles quais eram seus objetivos de vida mais importantes, e mais de 80% disseram que o principal objetivo de sua vida era enriquecer. Cinquenta por cento desses mesmos jovens adultos disseram que outro objetivo importante na vida era se tornar famoso. Rico e famoso, seria o sonho dos millenials, um sonho inatingível sem muito esforço, trabalho e sorte. Mas o que será que aconteceu com as gerações anteriores e seus sonhos? O que torna uma vida realmente boa?


Há alguns anos, em uma palestra para o TEDx Beacon Street, nos EUA, o pesquisador Robert Waldinger* descreveu o resultado do “Estudo de Desenvolvimento de Adultos” que a Universidade de Harvard conduziu, ao longo de sete décadas. Esse pode ser o estudo mais longo da vida adulta já feito e, talvez, o único dessas proporções. Pois é muito difícil manter um estudo ativo por tanto tempo, por várias razões, que vão desde a morte dos pesquisadores ou aposentadoria sem sua substituição, passando por cortes de financiamento à pesquisa, até a desistência da colaboração dos objetos de estudo. Ou seja, ao menos três gerações de cientistas, um financiamento ininterrupto de quase um século e uma colaboração surpreendente das pessoas, permitiu que conhecêssemos um pouco melhor a vida humana.

Assim sendo, por 75 anos, os colegas de Harvard acompanharam a vida de 724 homens, ano após ano, elaborando questionários que esses homens respondiam sobre seu trabalho, sua vida em casa, sua saúde e, claro, perguntando ao longo do caminho, sem saber o rumo que suas histórias de vida teriam.

Então, desde 1938, os cientistas rastrearam a vida de dois grupos de homens. O primeiro grupo começou o estudo quando os jovens estavam no segundo ano do Harvard College. Todos eles terminaram a faculdade durante a Segunda Guerra Mundial, e então, a maioria foi servir na guerra. E o segundo grupo foi de meninos dos bairros mais pobres de Boston, meninos que foram escolhidos para o estudo especificamente porque eram de algumas das famílias mais problemáticas e desfavorecidas de Boston na década de 1930. A maioria vivia em cortiços, muitos sem água corrente quente e fria.


Waldinger comenta em sua palestra que “quando eles entraram no estudo, todos esses adolescentes foram entrevistados. Eles fizeram exames médicos. Fomos a suas casas e entrevistamos seus pais. E então esses adolescentes cresceram e se tornaram adultos que entraram em todas as esferas da vida. Eles se tornaram operários, advogados, pedreiros e médicos, um presidente dos Estados Unidos. Alguns desenvolveram alcoolismo. Alguns desenvolveram esquizofrenia. Alguns escalaram a escada social de baixo para cima, e alguns fizeram essa jornada na direção oposta. Os fundadores deste estudo nunca, em seus sonhos mais auspiciosos, teriam imaginado que eu estaria aqui hoje, 75 anos depois, dizendo a você que o estudo ainda continua. A cada dois anos, nossa paciente e dedicada equipe de pesquisa liga para nossos homens e pergunta se podemos enviar a eles mais um conjunto de perguntas sobre suas vidas”.

Para ter uma visão mais clara dessas vidas, os cientistas não ficaram apenas enviando questionários. Foram feitas entrevistas presenciais, colhidos seus registros médicos, examinaram seus cérebros, conversaram com seus filhos. Esses homens foram filmados conversando com suas esposas sobre suas preocupações mais profundas. E quando, cerca de uma década atrás, quando os pesquisadores finalmente perguntaram às esposas se elas se juntariam ao estudo, muitas das mulheres disseram: "Sabe, já era hora!"


Mas então, o que a ciência aprendeu com esse estudo? Quais são as lições retiradas das dezenas de milhares de páginas de informações? Bem, as lições não são sobre riqueza ou fama ou trabalhar cada vez mais. A mensagem mais clara que este estudo de 75 anos revela é esta: Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis. Ponto final!


Os cientistas de Harvard conseguiram delimitar três pontos importantes, decisivos e claros com esse estudo. Três grandes lições.


A primeira é que as conexões sociais são realmente boas para nós e que a solidão mata. As pessoas que estão mais socialmente conectadas à família, aos amigos, à comunidade são mais felizes, são fisicamente mais saudáveis ​​e vivem mais do que as pessoas menos conectadas. Pessoas que estão mais isoladas do que gostariam de estar das outras descobrem que são menos felizes, sua saúde piora mais cedo na meia-idade, seu funcionamento cerebral diminui mais cedo e vivem vidas mais curtas do que as pessoas que não estão sozinhas.


A segunda grande lição que o estudo revela é que não é apenas o número de amigos que você tem que conta, mas é a qualidade de seus relacionamentos íntimos que importa. Casamentos de alto conflito, sem muito afeto, acabam sendo muito ruins para nossa saúde, talvez pior do que o divórcio. E viver em meio a relacionamentos bons e afetuosos é uma proteção para a saúde e bem estar.


A terceira grande lição que aprendemos sobre relacionamentos e nossa saúde é que bons relacionamentos não apenas protegem nosso corpo, eles protegem nosso cérebro. Acontece que estar em um relacionamento seguro e apegado a outra pessoa é protetor. As pessoas que estão em relacionamentos onde realmente sentem que podem contar com a outra pessoa em momentos de necessidade, faz com que as memórias dessas pessoas permanecem mais nítidas por mais tempo. E as pessoas em relacionamentos em que sentem que realmente não podem contar com o outro, são as pessoas que experimentam o declínio da memória. E esses bons relacionamentos não precisam ser suaves o tempo todo.

Alguns dos casais octogenários do estudo podiam brigar um com o outro dia após dia, mas, enquanto sentiam que realmente podiam contar um com o outro quando as coisas ficavam difíceis, essas discussões não afetavam suas memórias.


De acordo com Waldinger “a mensagem, de que relacionamentos bons e íntimos são bons para nossa saúde e bem-estar, é uma sabedoria tão antiga quanto as montanhas. Por que isso é tão difícil de conseguir e tão fácil de ignorar? Bem, nós somos humanos. O que realmente gostaríamos é de uma solução rápida, algo que possamos obter que torne nossas vidas boas e as mantenha assim. Relacionamentos são confusos e complicados e o trabalho árduo de cuidar da família e dos amigos não é sexy ou glamoroso. Também é vitalício. Nunca acaba”.


Nosso colega finaliza assim sua palestra:


- Eu gostaria de encerrar com uma citação de Mark Twain. Há mais de um século, ele estava fazendo uma retrospectiva de sua vida e escreveu o seguinte:


Não há tempo, tão curta é a vida, para discussões banais, desculpas, amarguras, tirar satisfações. Só há tempo para amar, e mesmo para isso, é só um instante”.


A boa vida se constrói com bons relacionamentos!


Acredite na Ciência, ela provou isso!


Kleber Del-Claro

Editor de A Ciência que nós fazemos - Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade de São Paulo (FFCLRP).

Cientista Pesquisador do CNPq desde 1996 (PQ 1A).

https://www.cienciaquenosfazemos.org/


Pegue esse texto em PDF na nossa Revista, nesse blog e distribua, vamos divulgar a ciência!

*Ref: https://www.ted.com/talks/robert_waldinger_what_makes_a_good_life_lessons_from_the_longest_study_on_happiness/transcript?rid=J7CiE5vP5I5t

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